quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Poesia para não poetas

Poesia para não poetas 1

Andando na rua, eis que tropeço numa pedra:

- Porra de pedra no meio do caminho.

Será que minhas retinas fatigadas jamais esquecerão desse acontecimento em suas vidas?
Balela! Somente o dedão do meu pé se lembrará da topada nesta maldita pedra.

Poesia para não poetas 2

- Toma um fósforo... - a estranha do meu lado oferece com seu cabelo de pantera.
- Obrigado, eu não fumo! - falo com um sorriso simpático, esquivando-me da quimera.

Ela me apedreja com os olhos e então me beija como uma fera:
- Mas que puta!! Vá escarrar na boca da sua mãe, cadela.

Poesia para não poetas 3

Mulheres para escolher, fiquei entre clara e morena:

Casimiro: - A morena é predileta.
Abreu: - Mas a clara é dos céus...
Casimiro: - A morena é a favorita dos homens.
Abreu: - Mas a clara é dos poetas.

Eu: - Perfeito, me ajudaram a decidir. Levarei as duas!

Poesia para não poetas 4

- Meu nome é Raimundo.
Rima estranha se rimar com mundo.
Não sou retirante, nem errante, nem cabeça grande.
O coronel aqui é Manoel, Zacarias foi trapalhão.

- Meu nome é Raimundo.
Não sou pirata e nem cantor.
Lavradores nunca me agradaram...
Sou empresário e construtor.

- Meu nome é Raimundo.
E um dia fui caipira.
Mas por Deus eu renasci.
Depois de uma vida severina.

- Severina, minha esposa.
Rima estranha se rimar com mundo.

Poesia para não poetas 5

Morava no vigésimo andar do prédio e tinha uma vizinha chamada Esperança.
Um dia Esperança, que já apresentava traços de loucura, pulou de sua janela mirando a calçada.
Pois bem, ela não voltou a ser criança e seus olhos verdes foram cobertos pelo sangue.
Seu vizinho concluiu: - Ainda dizem que esperança é a última que morre!


David Coutinho

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

[Escrevi qualquer verso]

Escrevi qualquer verso
Rimei, foi tudo em vão.
E ficou bem disperso.
Poesia assim? não!

A poesia
que reside em mim
é rebelde.

É revelia
e só rima quando quer.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Poesia alheia

Inspiração

Eu sei que a inspiração chegara de longe
O verbo situa-se na ponta da lingua
Palavras, queria eu que fossem cirúrgicas;
Porém são simplórias, brutas.

Eu sei que ela está encarniçada com a sua beleza
A mais bela, seus olhos são roucos, roucos mel.
Não sei de todo, nada de você
Seu nome por inteiro, ou metade do que é

Eu sei que parece ser, a mais linda flor de Guaxupé
Mineira francesa, com certeza é
E ela, a inspiração, aflora sem querer
Eu não pude entender.


Fábio Leoni

Mundo minúsculo

Eu não
Existo neste mundo
não há ilusões

Eu não existo
Nesse mundo não
há ilusões

Eu
Não mundo
(Não)

Ilusões

Eunãoexisto(...)mundonãoháilusões

Eu aquém
Eu além
Eu quem?

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Ato (nau)

em
fado
se
foda
Passo
Passado
    Descompasso

Passo
  Passo
Futuropassado

domingo, 9 de janeiro de 2011

Onírico

Não ouço a lira
(pura?)
do outro lado.
versos
      (cândidos?)
Não escuto o que vem
da outra margem.
Transido de algum
               (sentimento).
                            (sentimento?)

Escuto.

Lá estamos, compondo novas melodias
e versos.
Lá, tudo é real.
Meus verdadeiros temores;
todos os meus amores.

Lá estamos, Fernando!

Jantando à mesa, eu e eu. eu.
Flautas, fotografias, palavras,
criando o universo.
Todos quantos eu sou.

...


Desperto.
                                                           (sou?)...

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Poesia alheia

Ambiguidades: Separação das sílabas

Me
Meta
Metade

David Coutinho

Quick fix

Meus últimos versos
se perderam...

Foram
palavras,
tão somente
palavras.
A poesia em
palavras,

versos vazios -
de significado
e de razão
para quem lê.

A poesia em
palavras,
palavras
tão somente.

Palavras
isoladas,
que não lograram fugir.
Palavras
Tolhidas no pensar,
presas à estaca
implacável do eu dentro do eu.

Queriam elas estrugir,
rugir e bradar
a liberdade;
queriam sua própria
transfiguração em outras artes.

Mas apenas palram no ermo;
plangem o fracasso
e a soledade.

Terminam assim,
presas em mim;
isoladas em um único verso sobre
palavras;
encerradas em si mesmas.

A poesia em
palavras,
palavras
tão somente.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

- Escreva um poema neste instante, disse.
- Nunca fiz coisas desse modo, meu amigo.
- Qualquer merda é arte.

Diálogos.
- Relaxe - ela me disse.
- Estou relaxado. Só não gosto de vê-la se atormentando por isso. Com um corpo escultural de que vale umas marcas no rosto?
- É coisa de adolescente...
- É apenas acne!
- Não é apenas acne. Tenho vontade de arrancar meu rosto fora e não sair de casa.
- Diabo! O quão vale pra você?
- É feio.
- E quem em sã consciência se importa com algo assim?! Nós somos casados há anos! Eu não ligo pra isso.
- Mas é feio.
Silêncio. Passos. Chaves. Fechadura. Batida. Ignição. Ronco. Pneus. Mais batida. Bar. Amigos. Cerveja. Horas. Embriaguez.
Ignição. Ronco. Pneus. Freio. Batida. Descompassos. Soluço. Chave. Vertigem. Fechadura. Batida.
- Olha meu rosto, amor! Que horrível!
- Arte...
- Arte?
- No bar, um amigo me disse: qualquer merda é arte...

Diálogos.

Gostaria de agradecer ao amigo Gabriel Magalhães, que, ultimamente, vem escrevendo muito bem.