quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Eis que um pobre diabo regurgitou o nó que tinha na garganta. Exprimiu e espremeu. Dos refugos do nó, nasceram estas palavras, escritas a esmo e abandonadas ao relento.

.
Dolores desembestou
pelos corredores,
hemérticos corredores
no âmago de Maria.

Ela se diz poetisa;
vez em quando autoproclama-se
a própia poesia.
Ela, a própria poesia!

Disse-me outro dia
que o mundo é uma patranha
e que ela mesma vive à sorrelfa,
quando passeia pelos dedos de Maria.

domingo, 26 de dezembro de 2010

Céu

O comboio passou
e, por um breve instante,
vi grandes amigos partirem.

Ainda vivo aquele momento
enquanto brinco de amarelinha;
enquanto tombo, ébrio, pelas ruas.

domingo, 21 de novembro de 2010

— Dia estranho, não é mesmo?
— Como?
— Dia estranho.
— Todo dia é estranho.
— Não. Hoje... essa névoa... as ruas desertas...
— Pra mim, todo dia é estranho. Eles nunca me convencem.
— Quem não te convence?
— Os dias... são falsos... estranhos... isso não pode ser a realidade... não é possível que seja... isso é... sei lá que porra é isso tudo.

A arte de produzir efeito sem causa, Lourenço Mutarelli.

domingo, 7 de novembro de 2010

Vera

A Vera revela sua nudez.
Toda nua, a Vera,
calma, quieta, espera...
(pensando)

"Mas quer foder comigo de uma vez"!

Acalme-se, Vera!
Desse modo, você arruina os versos, Vera!
Revela-me em outro momento...

A Vera revela sua nudez.
Toda nua, a Vera...

"Mostra, sem rodeios, sem hesitar,
que é crua deveras".

E fode comigo outra vez!

terça-feira, 26 de outubro de 2010

À luz de tudo isso, desfaço-me de qualquer pretensão à grandeza e recolho-me em minhas singelas plumas. De coisas ínfimas se faz uma vida - alpiste crocante, castanhas adocicadas, frutas tenras, banho de sol, água fresca, brisa benigna, papagaias espirituosas, bons amigos. De coisas ínfimas se faz uma vocação...

Prosa de papagaio, Gabriela Guimarães Gazzinelli

sábado, 16 de outubro de 2010

Poesia

Gastei uma hora pensando num verso
que a pena não quer escrever.
No entanto ele está cá dentro
inquieto, vivo.
Ele está cá dentro
e não quer sair.
Mas a poesia deste momento
inunda minha vida inteira.

Carlos Drummond de Andrade

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Já perceberam...

Que o camaleão está sorrindo?

Ocaso

Naquela noite, o relâmpago do acaso prorrompeu no céu com tanto ímpeto que o rasgou em dois. Choveram prantos nas vizinhanças. Porém, quem mais lacrimejava perante àquela intempérie era o próprio céu, por motivos óbvios.

Os carros, eu mesmo os vi, estavam metade submersos; tanta era a água que o céu chorava. Trataram, então, os ratos de nadarem naquelas grandes piscinas de lágrimas , antes chamadas ruas, para o pavor das mulheres. Estavam cansados do marasmo dos bueiros. Os religiosos – Deus os tenha – procuraram alguma ligação com o dilúvio, com Noé, com o antigo testamento. Alguns pensaram em construir uma arca; mas o problema era os animais: só havia ratos.

Todo esse "dilúvio" causou enchentes pelas cidades em dois tempos, como dizem. Alguns músicos sobreviventes escreveram sobre o ocorrido num único compasso 2/4.

Seria de todo incômodo o desgraçado do relâmpago, se não os unisse naquela mesma noite. Ela sem ter como voltar para a casa, ele oferecendo-lhe a sua. Nada havia entre os dois antes; agora eram amantes. Se amaram através da noite, absortos da tempestade, dos ratos, da vida, do mundo. E do mundo e da vida.

Passaram-se as horas, os dias nas horas, as semanas nos dias, os meses nas semanas e, por fim, passaram-se os anos. A chuva não passou. Chove até hoje. E até hoje, submersos e esquecidos, eles continuam se amando. O acaso, ou destino, sorriu-lhes do horizonte e desapareceu no ocaso para se juntar às estrelas, na certeza de que cumprira seu papel.

sábado, 25 de setembro de 2010

Apagou o cigarro no cinzeiro sobre a mesa. O ambiente, por si só, é apagado: vermelho carmesim, empesteado daquelas rêmoras que, agregadas à fera, sentem-se saciadas com os restos que a elas chegam. Aqui, porém, a fera era os restos; estes, por sua vez, deixados pelos pequenos peixes, uns aos outros.

Predominava a espera, o ensejo. Era preciso. É verdade que tudo aqui exala um perfume cálido; mas aquelas rêmoras, agora tubarões, não se importam com o perfume. Lúbricos e abastados, como bons senhores que são, esperavam. Ela também esperava, nada abastada, diga-se de passagem; mas lasciva, talvez. Valhe-se o dito popular que diz: "Aquele que só pensa em trabalho, torna-se maçante".

Quando enfim ela é encontrada, torna-se tudo uma verdadeira festa. Lençóis emaranhados, travesseiros jogados, alarias que incluem todo o tipo de palavras daquelas inevitáveis. Claro que, da parte dela, são palavras um pouco aleivosas, mas isso não vem ao caso. Estão lá a mulher com espírito de tartufo - ou o tubarão de antes - e a rêmora. A rêmora devora a fera. Mas, se acabou-se o tempo, já lá se vai o gozo.

Apagou o cigarro no cinzeiro sobre a mesa e espera o próximo. Talvez, por displicência, uma mera negligência destas jogadas a esmo, não percebem estes senhores que eles próprios são as putas. E está para nascer, quem sabe por outra negligência, o legítimo, o puro, o filho da puta.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Li o que segue em um marca-páginas que uso. É o único que possuo, portanto me habituei a usá-lo constantemente e resolvi colocar seus dizeres aqui.

Está escrito:

"O essencial da arte e exprimir; o que se exprime não interessa".

Fernando Pessoa

....

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

No terceiro dia da viagem, abraão viu ao longe o lugar referido. Disse então aos criados, Fiquem aqui com o burro que eu vou até lá adiante com o menino, para adorarmos o senhor e depois voltamos para junto de vocês. Quer dizer, além de tão filho da puta como o senhor, abraão era um refinado mentiroso, pronto a enganar qualquer um com a sua língua bífida, que, neste caso, segundo o dicionário privado do narrador desta história, significa traiçoeira, pérfida, aleivosa, desleal e outras lindezas semelhantes.

"Caim", José Saramago

O artista

O artista sabe que é preciso
morrer aos poucos para produzir.
Ele sabe ser conciso;
sabe quando deve fingir.

Tão excelente fingidor ele é,
que pensa ser mesmo um cientista,
profeta, professor, cantor, artista...
Brinca de ser ateu e fala de fé.

E, ao final de sua obra recente,
o artista pensa ser ela a melhor.
Mas, quando fala a alguém ali presente,
é só artista a falar de amór.


Aos senhores Jorge Rezende e Cesar Carvalho

sábado, 18 de setembro de 2010

A criação

No firmamento
estavam a música,
a pintura, a literatura
e todas as outras artes
a foder.

E, assim, foi criado o mundo.

A caieira dos sonhos

Ao carrilhão apetecia que as zero horas de um momento qualquer – nota-se que não estamos tratando disto com precisão, ainda que esta seja necessária às ciências – fossem recebidas com suaves badaladas de sinos que muito se conhecem no páramo, de modo que apenas esses notáveis relógios sabem fazer.

Não era manhã, e nem Hipnos havia corrido por todo o céu: eram apenas zero horas. Não era, também, situação idônea para ser classificada dentro dos limites do aqui e do agora. Era um sonho... Isto! Um sonho o era, pois. E esse admirável relógio que lá habitava tornava para si todos os holofotes de protagonista.

Na verdade, não havia holofotes. O relógio encontrava-se suspenso num ambiente caiado e estava à vontade para badalar suas zero horas. Para sempre. Ora, todos conhecemos os sonhos e suas porfias: cidades são erguidas em meio ao ermo e à solidão, orgasmos são consumados para o deleite dos amantes, o mundo é consumido ferozmente pelo fogo de tempos derradeiros e, em seguida, recriado e agraciado com um sol fulgurante, tudo num piscar de olhos. Entretanto, assim como os holofotes, os olhos estavam ausentes do sonho, o que é menos surpreendente que comum.

Quando é desejo dos sonhos, o tempo é ignorado, tal como fazemos com o real. E, naquele relógio que só registrava passado, o real se apresentava sem rodeios. Morfeu era o relógio, e o relógio era Morfeu. Ele vencera.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

A mulher desesperou-se - Não há nada mais para vender. Enquanto isso, o que nós vamos comer? - perguntou a mulher, agarrando o Coronel pelo colarinho.
Sacudiu-o com força.
- Diga, o que nós vamos comer?
O Coronel precisou de setenta e cinco anos - os setenta e cinco anos de sua vida, minuto a minuto - para chegar àquele instante. Sentiu-se puro, explícito, invencível, no momento de responder:
- Merda.

"Ninguém Escreve ao Coronel", Gabriel García Márquez.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Eu, quando pequeno, perguntava-me o que era poesia; mas nunca soube responder a pergunta que eu mesmo fazia, talvez porque o momento estivesse engendrando a própria poesia.

Hoje, quando me perguntam sobre a poesia, eu digo que ela está por aí, tomando um cafezinho e esperando para ser encontrada. Peço desculpas a quem me pergunta, pois não sei ao certo definir. Poesia é tudo isto aqui: esta é a melhor forma como posso definir.

Se existe algo que me incomoda é alguém "fazer" poesia. Não se faz poesia, simplesmente porque seria um sacrilégio contra a mesma. Ela aparece como sol e refresco, raio e relâmpago, cigarro e café; vive por aí, morrendo na aurora e ressurgindo ao anoitecer. Na chuva, nas flautas e nas ruas do Rio de Janeiro: a poesia está em todo e qualquer lugar onde possamos encontrá-la.

Às árvores

Árvores são gigantes majestosos que nos fascinam. Este post é dedicado a elas.

Árvore

A árvore traz consigo o espírito das mudas:
limita-se ao silêncio até não mais existir.

Há sonhos que são árvores plantadas dentro de nós.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Quarta-feira. No meio do tiroteio, o Sol nem mostra a cara. Pastos verdejantes celebrando a vastidão no meio do vazio. O verde não é tão vasto quanto o vazio desta quarta-feira.

Eco

Cáucaso ou Andes,
o elo é:
um grito no silêncio
será sempre
'grito, grito, grito'.

Melhor que seja silêncio.
Se realmente há uma dádiva divina com a qual Deus agraciou o homem, essa dádiva é a mentira. Ela, mediadora de todos os sentidos, recebeu, injustamente, a alcunha de filha do Diabo.

Não há por que negar: a mentira reina sobre o homem, subjugando cada visão, cada sentido, para que nela creiam cegamente. E faz isto tão bem, que chegam acreditar que ela é a própria verdade.

A Mãe Natureza, juntamente à sua irmã Mentira, pintou o mundo à sua imagem e semelhança, criando uma aquarela etérea e sombria, celestial e diabólica. O que é a existência, senão produto da própria mentira?

Nada se toca, nada se vê: tudo é registro do passado, produto da mentira. Presente e futuro? Balelas! Não passam de pura abstração. A mentira é o real; ela está ali presente, como raízes de uma grande Major Oak. Sendo assim, é a mentira responsável por todas as sensações. Ode, pois, à mentira!

Ah! que inveja daqueles que, à fé jurada, derramam a sua perfídia sobre a mesa, num banquete esplêndido diante dos deuses, ousando da mentira, que, com suas longas pernas, invade os Elísios, recônditos no vasto pensamento olímpico de cada um ali presente. E não vá se enganar: não há sensação mais efusiva que a de ser ludibriado por uma bela mentira!

domingo, 18 de julho de 2010

Circunstância

Vendo os daqui tricotar,
dar cabriolas e amar,
quis eu o mesmo.

Mas, como sonhasse muito,
o devaneio tornou ao seu lugar
e adormeceu.

domingo, 11 de julho de 2010

Hiato

Volto a escrever assim que a inspiração me visitar.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Hermeto

Calei os dedos,
encontrei uma nova poesia.

Silêncio. Esta poesia-
momento pertence apenas a mim.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Devir

Estas palavras, eu as suicido.
Sou o apóstata do meu criacionismo;
o iconoclasta das minhas palavras.

Agora, sou essas palavras
me fitando da outra margem.

Sou agora o que antes sou.
Há tempos serei o após.

(Sempre nunca estável)

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Pedro e Jorge

"Minha dor, eu a guardo no peito",
diz São Pedro ao chão.
"Qual São jorge guarda a lua".

Jorge, santo que é,
guarda um Pedro pueril;
mas Pedro nega, nega, nega.

Eis que os dois arrebatam:
São Jorge vai à lua,
São pedro vai ao céu.

São Jorge mancha a lua,
e São Pedro manda a garoa.
Valha-nos, guarda-chuva!

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Caindo

Versos são medidas que se reduzem
Tiro qualquer sílaba daqui...
Agora já se foram duas
que resvalam pelas mãos.
E esse versinho meu,
Redondo e pequeno,
Só se despede
de você
assim:
Tchau.

sábado, 13 de março de 2010

Poesia Alheia

Diga-me, amor

Por que me ignoras?
Por que escondes sorrisos
Mostrando-me a nuca?
Por que tuas palavras sopram em outros ouvidos?

Por que não me consolas
Em meu leito,
Onde posso moldar-te
E desfazer-te?

Por que caminhas
Por outras vielas,
Onde não posso compartilhar de ti,
Alegria?

Gabriel Magalhães

quarta-feira, 10 de março de 2010

Sentir e crer

Vou idiota, qual quixote,
amar parte do outro lado:
esse delírio além mar.

Tudo desatina enquanto cala
a voz...
Maneiros são os reclassificados;
sou apenas sonhador, sem requintes
ou sonhos bem estruturados.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Inércia

Tantas pedras no pensar,
poucas horas, horas, horas,
as quais, outrora, podiam contar.

Elas, as horas costumam agora sincopar.

Sem cerimônias, logo penso que
o dia em que de fato existi
foi aquele que nunca conheci.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Poesia Alheia

- Controvérsias -

Ele diz conhecer as regras do jogo...

Mas que balela - deixa que eu jogo!

Se brincar de rimar não tem segredo
Começo logo a pensar num novo enredo
De que se tenha muita coisa pra falar

Alguma rima quase tão leve
E tão rica quanto o ar...

Mas ele insiste com as palavras
Que sabe de cor
E teima que nelas o poeta
Enxerga a cor

Enquanto eu penso
Que regrar é o pior

Ele crê que as regras
Têm valór!

Cesar Carvalho

Um grande amigo e professor.
myspace.com/cesarcarvalho

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Propaganda

Corações esfarelados?
Resquícios de sono
embaixo do sofá?
Amores empoeirados
no chão do salão
de espera?

Ou ainda cacos
de saudade?

Aspirador!

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Versos livres

Ora, se eu soubesse antes
o que eram versos livres,
falaria às estantes:
São os seus livros dispensáveis.

Poesia alheia

Se foi e me deixou a ver Navios
Avios
Vios
Ios
Os
S
...
Afundou!

David Coutinho

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Matiz

Palavra e gente:
pétalas de uma só flor.

Gente é botão que germina,
é regado e desabrocha;
palavra é flor de cor rochosa.

Bravura é guerreiro,
ouvido é regente,
e a palavra é a cor da gente.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Poesia alheia

Semanalmente, será cedido um espaço aberto para a postagem de poemas. Se você quer seu poema (ou qualquer forma de poesia) postado, entre em contato.

O poema que segue é de autoria de um grande amigo.

Ai, ai

As datas são tão distantes
O passado que hoje era lembrança
Amanha é pó e mais distância.
Que vontade de ter o presente
Tão próximo e um futuro mais junto!
Loucura... Deve ser.
O amor que eu ignorei por medo
De um dia descobrir que foi em vão
Hoje, é o amor que faz falta e escreve poemas de paixão.
Aquelas velhas cartas marcadas de um final utópico

É um velho fim já marcado por frases de um novo começo

Quem é que mais sofre nessa história?
Aquele que ama demais?
Aquele que não ama?
Ou aquele que ama em segredo?

A resposta é obvia, será sempre o “Eu”
“Eu que te amei mesmo sem querer”
“Eu que esperei para um dia amar você”
“Ele que sorriu para mim, quando ninguém mais sorria”

Fábio Henrique

Segue abaixo o blog dele, para quem quiser visitar.
Aluga-se e vende palavras

Outrora

Tinha calos de amar;
mas amor para esmerar.

Tinha céu e tinha terra,
menos mar para navegar.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

A condição do colosso

“Passou, pois, a vestir seu corpo como seus semelhantes. Aprendeu a ser cego e tolerar suas angústias. Agora, era marcado. Era como Caim, filho de Adão; como o gado que se reconhece pelo brasão de seu dono”.
Cinira Bastos

Seria fatal para um colosso de pedra
Secar as lágrimas de sua face;
Seria perigoso para ele caminhar
Em busca daquilo que não se sabe,
Pois acontece que uma brisa o abale
E o chão encontrem mil pedaços de pedra.

Posto isso, alguém no futuro fará um poço
Dos mil restos iguais de pedra
Que um dia foram um colosso.

Dimensão paralela e particular

O núcleo de todos os pensantes
habitam as jazidas de Ternoé,
e tudo o que é direito
tem o direito de ser torto em Ternoé.

Os porcos, hienas e abutres
não ingressam nas jazidas de Ternoé;
pois tão estreita é a passagem
que só os pensantes transpassam
seus domínios.

As aranhas, escorpiões ou morcegos
não habitam as cavernas de Ternoé,
porque o eterno admite
apenas as gravuras pensantes
nas paredes das cavernas de Ternoé.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Seu

Atirei ao céu relevo
que faltava no laranja.
Nossos pés não são os nossos
nem as flores da bonança,

[...]

Que um dia propuseram
muita fé e esperança?
Seja a flor ainda sua;
seja hermética a aliança.

****

Em tempo: um salve para Flapjack, o Quixote dos desenhos animados.

Coexistir

Café, almoço.
Cidade.
Espreme:
"Ah, morador, se vou?
Porvir a Deus
apenas.
Há dúvidas?"

Cá, fé, ao moço.
Solidão.
Exprime:
"Amor, a dor cevou
por vir. Adeus.
Há penas...
Ah, dúvidas!"

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

A incrível roda panorâmica

Pesa no tempo a mesura
do efêmero, gigante nas saudades.
Volta nas medidas o tempo
e vem no intento de dizer-me:
"Desatina de vez
e vai buscar nos braços do redentor,
ou em qualquer forma de amor,
aquela confortável lucidez".

Pássaro no telhado

No telhado vê-se o pássaro abrigado
das centenas de milhares de gotinhas
que despencam do chão das nuvens
ao céu das árvores.

Tem medo o pássaro?
Ô, se tem!
Olha-me desconfiado,
como se igual não houvesse ninguém.

Mas logo a atenção volta ao corpo molhado.

Seca-se o passarinho no telhado.
Do ninho não tem mais recado.
Voa.